continuação 2

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mesa do outro lado de uma fronteira invisível. Essa fronteira se dissolvia nos
dias de sol, quando Edward e Alice sempre matavam aula, e então a conversa
passava com facilidade a me incluir.
Edward e Alice não achavam esse ostracismo estranho nem doloroso,
como eu teria achado. Eles mal percebiam. As pessoas sempre se sentiam
estranhamente pouco à vontade com os Cullen, quase com medo, por algum
motivo que não conseguiam explicar a si mesmas. Eu era uma rara exceção
a essa regra. Às vezes, incomodava a Edward que eu fi casse à vontade perto
dele. Ele pensava que era perigoso para minha saúde — uma opinião que eu
rejeitava com veemência sempre que ele a verbalizava.
A tarde passou rápido. As aulas terminaram e Edward me acompanhou
até a picape, como sempre fazia. Mas dessa vez ele abriu a porta do carona
para mim. Alice devia ter levado o carro dele para casa, para que ele pudesse
impedir que eu fugisse.
Cruzei os braços e não fiz nenhum movimento para sair da chuva.
— É meu aniversário, não posso dirigir?
— Estou fi ngindo que não é seu aniversário, como é seu desejo.
— Se não é meu aniversário, então não tenho que ir para a sua casa hoje
à noite...
— Muito bem... — Ele fechou a porta do carona e passou por mim para
abrir a do motorista. — Feliz aniversário.
— Shhhh — pedi, meio indiferente. Entrei pela porta aberta, querendo
que ele aceitasse a outra proposta.
Edward fi cou mexendo no rádio enquanto eu dirigia, sacudindo a cabeça,
desaprovando.
— Seu rádio tem uma recepção horrível.
Fechei a cara. Eu não gostava quando ele mexia na minha picape. O carro
era ótimo — tinha personalidade.
— Quer um bom sistema de som? Dirija seu próprio carro. — Eu estava
tão nervosa com os planos de Alice, além de meu humor já sombrio, que as
palavras saíram mais ásperas do que pretendia. Quase nunca me exaltava
com Edward, e meu tom de voz o fez apertar os lábios para conter o riso.
Quando estacionei diante da casa de Charlie, ele pegou meu rosto entre
as mãos. Agia com muito cuidado comigo, colocando a ponta dos dedos de
modo suave em minhas têmporas, nas maçãs do rosto, na linha do queixo.
Como se eu fosse especialmente quebradiça. O que era exatamente a verdade
— comparada com ele, pelo menos.
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— Devia estar de bom humor, hoje é o seu dia — sussurrou ele. Seu hálito
doce soprava em meu rosto.
— E se eu não quiser fi car de bom humor? — perguntei, minha respiração
irregular.
Seus olhos dourados arderam.
— Isso é péssimo.
Minha cabeça já estava girando quando ele se aproximou mais de mim e colocou
os lábios gelados nos meus. Como era a intenção dele, sem dúvida, eu me
esqueci de todas as preocupações e me concentrei em lembrar como respirar.
Sua boca pairou na minha, fria, suave e gentil, até que passei os braços por
seu pescoço e me atirei no beijo com um pouco de entusiasmo demais. Pude
sentir os lábios dele se curvarem para cima enquanto ele se afastava de meu
rosto e tentava sair do meu abraço.
Edward traçara limites muito cuidadosos para nossa relação física, com a
intenção de me manter viva. Embora respeitasse a necessidade de preservar
uma distância segura entre minha pele e seus dentes afi ados, cobertos de
veneno, eu tendia a me esquecer de questões banais como essa quando ele
me beijava.
— Seja boazinha, por favor — sussurrou ele em minha bochecha. Ele
apertou os lábios com delicadeza contra os meus mais uma vez e se afastou,
cruzando meus braços em minha barriga.
Minha pulsação martelava nos ouvidos. Coloquei a mão no coração. Ele
batia rápido demais sob minha palma.
— Acha que um dia vou superar isso? — perguntei, principalmente para
mim mesma. — Que meu coração um dia vai parar de tentar pular do peito
sempre que você tocar em mim?
— Eu realmente espero que não — disse ele, meio presunçoso.
Revirei os olhos.
— Vamos ver os Capuleto e os Montéquio se dilacerando, está bem?
— Seu desejo é uma ordem.
Edward se esparramou no sofá enquanto eu passava o fi lme, acelerando
nos créditos de abertura. Quando me empoleirei na beira do sofá na frente
dele, ele passou os braços em minha cintura e me puxou para seu peito. Não
era exatamente tão confortável quanto um sofá, com seu peito duro e frio —
e perfeito — como uma escultura de gelo, mas com certeza eu preferia isso.
Ele puxou a velha manta oriental do encosto do sofá e me envolveu com ela,
para que eu não congelasse junto de seu corpo.
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— Sabe, nunca tive muita paciência com Romeu — comentou ele enquanto
o fi lme começava.
— O que há de errado com Romeu? — perguntei, meio ofendida. Romeu
era um de meus personagens de ficção preferidos. Até conhecer Edward, eu
tinha uma espécie de queda por ele.
— Bem, antes de tudo, ele está apaixonado por essa Rosalina... Não acha
que isso o deixa meio volúvel? E então, minutos depois do casamento, ele
mata o primo de Julieta. Não é muito inteligente. Um erro depois do outro.
Será que ele poderia destruir a própria felicidade de uma forma mais completa?
Eu suspirei.
— Quer que eu veja o fi lme sozinha?
— Não, vou assistir com você, de qualquer jeito. — Seus dedos traçaram
desenhos em meu braço, me provocando arrepios. — Vai chorar?
— É provável — admiti —, se eu estiver prestando atenção.
— Então não vou distraí-la.
Mas senti seus lábios em meu cabelo, e esta era uma distração e tanto.
O filme, enfi m, prendeu minha atenção, graças em grande parte às falas
de Romeu que Edward sussurrava em meu ouvido — sua voz irresistível de
veludo fazia com que a voz do ator parecesse fraca e grosseira. E eu chorei, para
divertimento dele, quando Julieta acordou e descobriu o novo marido morto.
— Devo admitir que tenho um pouco de inveja dele aqui — disse Edward,
secando minhas lágrimas com uma mecha do meu cabelo.
— Ela é linda.
Ele fez um som de repulsa.
— Não o invejo por causa da garota... Só pela facilidade do suicídio —
esclareceu num tom de provocação. — Para vocês, humanos, é tão fácil! Só o
que precisam fazer é engolir um vidrinho de extratos de ervas...
— Como é? — ofeguei.
— Foi uma idéia que tive certa vez e eu sabia, pela experiência de Carlisle,
que não seria simples. Nem tenho certeza de quantas maneiras Carlisle
tentou se matar no começo... Depois de perceber no que se transformara...
— Sua voz, que se tornara séria, fi cou leve de novo. — E ele claramente ainda
goza de excelente saúde.
Virei-me para poder ver seu rosto.
— Do que está falando? — perguntei. — O que quer dizer, essa história
de que pensa nisso de vez em quando?
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— Na primavera passada, quando você estava... quase morta... — Ele
parou para tomar fôlego, lutando para recuperar o tom de brincadeira. — É
claro que eu tentava me concentrar em encontrar você viva, mas parte de
minha mente fazia planos alternativos. Como eu disse, não é fácil para mim,
como é para um humano.
Por um segundo, a lembrança de minha última viagem a Phoenix passou
por minha cabeça e me deixou tonta. Eu podia ver tudo com tanta clareza
— o sol ofuscante, as ondas de calor saindo do concreto enquanto eu corria
com uma pressa desesperada para encontrar o vampiro sádico que queria me
torturar até a morte. James, esperando na sala de espelhos com minha mãe
de refém — ou assim eu pensava. Eu não sabia que era tudo um ardil. Assim
como James não sabia que Edward estava correndo para me salvar. Edward
daquela vez conseguira, mas foi por pouco. Sem pensar, meus dedos acompanharam
a cicatriz em crescente lunar em minha mão, que sempre fi cava
alguns graus mais fria do que o restante de minha pele.
Sacudi a cabeça — como se eu pudesse me livrar das lembranças ruins —
e tentei entender o que Edward dizia. Meu estômago afundou de um jeito
desagradável.
— Planos alternativos? — repeti.
— Bem, eu não ia viver sem você. — Ele revirou os olhos como se este
fato fosse óbvio até para uma criança. — Mas não tinha certeza de como
fazer... Eu sabia que Emmett e Jasper não me ajudariam... Então pensei em
talvez ir à Itália e fazer algo para provocar os Volturi.
Não podia acreditar que ele falava sério, mas seus olhos dourados estavam
pensativos, focalizados em alguma coisa distante enquanto ele refl etia sobre
as maneiras de acabar com a própria vida. Abruptamente, fi quei furiosa.
— O que é um Volturi? — perguntei.
— Os Volturi são uma família — explicou ele, os olhos ainda distantes.
— Uma família muito antiga e muito poderosa de nossa espécie. São a coisa
mais próxima que nosso mundo tem de uma família real, imagino. Carlisle
morou com eles por pouco tempo em seus primeiros anos, na Itália, antes de
se estabelecer na América... Lembra a história?
— É claro que lembro.
Eu nunca me esqueceria da primeira vez que fui à casa dele, a enorme
mansão branca bem no fundo da fl oresta, ao lado do rio, ou a sala em que
Carlisle — pai de Edward de tantas maneiras genuínas — mantinha uma
parede de pinturas que ilustravam sua história. A tela mais vívida, a mais
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colorida dali, a maior, era da época de Carlisle na Itália. É claro que eu me
lembrava do tranqüilo quarteto de homens, cada um deles com um extraordinário
rosto de serafim, pintados no balcão mais alto que dava para o violento
torvelinho de cores. Embora a tela tivesse séculos, Carlisle — o anjo
louro — continuava inalterado. E eu me lembrava dos outros três, os primeiros
companheiros de Carlisle. Edward nunca usou o nome Volturi para o belo
trio, dois de cabelos escuros, um de cabelos brancos. Ele os chamou de Aro,
Caius e Marcus, patronos noturnos das artes...
— De qualquer modo, não se deve irritar os Volturi — prosseguiu
Edward, interrompendo meus devaneios. — A não ser que se queira morrer...
Ou o que quer que aconteça conosco. — Sua voz era tão calma que o
fazia parecer quase entediado com a perspectiva.
Minha raiva transformou-se em pavor. Peguei seu rosto marmóreo entre
as mãos e o segurei com força.
— Você nunca, nunca, jamais pense em nada parecido de novo! — eu
disse. — Não importa o que possa acontecer comigo, você não pode se machucar!
— Eu jamais a colocarei em risco de novo, então esta é uma discussão
inútil.
— Me colocar em risco! Pensei que tínhamos combinado que todo o azar
era minha culpa. — Eu estava ficando com mais raiva. — Como se atreve a
pensar desse jeito? — A idéia de Edward deixando de existir, mesmo que eu
estivesse morta, era impossivelmente dolorosa.
— O que você faria, se a situação se invertesse? — perguntou ele.
— Não é o mesmo caso.
Ele não pareceu entender a diferença. Edward riu.
— E se alguma coisa acontecer com você? — Empalideci com a idéia. —
Gostaria que eu acabasse comigo mesma?
Um vestígio de dor tocou seus traços perfeitos.
— Acho que entendo seu argumento... Um pouco — admitiu ele. —
Mas o que eu faria sem você?
— O que estava fazendo antes de eu aparecer e complicar sua vida.
Ele suspirou.
— Parece tão fácil, do jeito que você fala.
— Devia ser. Eu não sou assim tão interessante.
Ele estava prestes a discutir, mas deixou passar.
— Discussão inútil — lembrou-me.
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De repente, ele se colocou numa postura mais formal, passando-me para
o lado para que não nos tocás se mos mais.
— Charlie? — adivinhei.
Edward sorriu. Depois de um minuto, ouvi o som da radiopatrulha parando
na entrada de carros. Peguei a mão dele com fi rmeza. Meu pai podia
lidar com aquilo.
Charlie entrou segurando uma caixa de pizza.
— Oi, pessoal. — Ele sorriu para mim. — Pensei que ia gostar de uma
folga da cozinha e dos pratos em seu aniversário. Está com fome?
— Claro. Obrigada, pai.
Charlie não comentou a aparente falta de apetite de Edward. Ele estava
acostumado a ver Edward desprezar o jantar.
— Importa-se se eu pegar Bella emprestada esta noite? — perguntou
Edward quando Charlie e eu terminamos.
Olhei cheia de esperança para Charlie. Talvez ele pensasse em aniversários
como um programa de família que era passado em casa — era meu primeiro
aniversário com ele, o primeiro aniversário desde que minha mãe, Renée, casara-
se de novo e fora morar na Flórida, então eu não sabia o que ele esperava.
— Tudo bem... Os Mariners vão jogar contra os Sox esta noite — explicou
Charlie, e minha esperança desapareceu. — Então não serei boa companhia...
Toma. — Ele pegou a câmera que tinha comprado por sugestão de Renée
(porque eu precisava de fotos para encher meu álbum) e a atirou para mim.
Ele devia saber muito bem — sempre tive problemas de coordenação. A
câmera raspou na ponta de meus dedos e ia caindo no chão. Edward a pegou
antes que se espatifasse no piso.
— Boa pegada — observou Charlie. — Se fi zerem alguma coisa divertida
na casa dos Cullen hoje, Bella, devia tirar umas fotos. Sabe como sua mãe é...
Ela vai querer ver as fotos mais rápido do que você pode tirá-las.
— Boa idéia, Charlie — disse Edward, passando-me a câmera.
Liguei a câmera apontada para Edward e bati a primeira foto.
— Funciona.
— Que bom. Ei, dê um alô a Alice por mim. Ela não tem aparecido. — A
boca de Charlie se repuxou em um canto.
— Faz três dias, pai — lembrei a ele. Charlie era louco por Alice. Ele ficou
ligado a ela na última primavera, quando ela o ajudara em minha convalescença;
Charlie lhe seria eternamente grato por tê-lo poupado do horror de
uma fi lha quase adulta que precisava de ajuda no banho. — Vou dizer a ela.
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— Tudo bem. Divirtam-se. — Era claramente uma dispensa. Charlie já
estava indo para a sala de estar e a tevê.
Edward sorriu, triunfante, e pegou minha mão para me puxar da cozinha.
Quando entramos na picape, ele abriu a porta do carona para mim de
novo e, desta vez, não discuti. Ainda tinha difi culdades para encontrar o
discreto desvio para a casa dele no escuro.
Edward dirigiu para o norte, atravessando Forks, visivelmente forçando
o limi te de velocidade de meu Chevy pré-histórico. O motor gemeu ainda
mais alto do que de costume enquanto ele o forçava a chegar a 80km/h.
— Vá com calma — alertei.
— Sabe o que você ia adorar? Um pequeno e lindo cupê Audi. Muito
silencioso, muita potência...
— Não há nada de errado com minha picape. E por falar em supérfluos
caros, se sabe o que é bom para você, não gaste dinheiro nenhum com presentes
de aniversário.
— Nem um centavo — disse ele castamente.
— Ótimo.
— Pode me fazer um favor?
— Depende do que for.
Ele suspirou. Seu lindo rosto agora estava sério.
— Bella, o último aniversário de verdade que tivemos foi o de Emmett,
em 1935. Relaxe um pouco e não seja difícil demais esta noite. Todos estão
muito animados.
Sempre me surpreendia um pouco quando ele colocava a situação desse
jeito.
— Tudo bem, vou me comportar.
— Preciso avisá-la...
— Por favor.
— Quando eu digo que estão todos animados... Quero dizer todos eles.
— Todos? — sufoquei. — Pensei que Emmett e Rosalie estivessem
na África. — O restante de Forks pensava que os mais velhos dos Cullen
tinham ido para a universidade este ano, para Dartmouth, mas eu sabia da
verdade.
— Emmett queria estar aqui.
— Mas... Rosalie?
— Eu sei, Bella. Não se preocupe, ela vai se comportar bem.
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Não respondi. Como se eu pudesse não fi car preocupada tão facilmente.
Ao contrário de Alice, a outra irmã “adotiva” de Edward, a loura dourada e
maravilhosa Rosalie, não gostava muito de mim. Na verdade, o sentimento
era um pouco mais forte do que só a antipatia. No que dizia respeito a Rosalie,
eu era uma intrusa indesejada na vida secreta de sua família.
Senti um remorso terrível pela situação, imaginando que a prolongada
ausência de Rosalie e de Emmett era minha culpa, mesmo que no fundo
me agra dasse não precisar vê-la. De Emmett, o irmão de Edward que era
um urso brincalhão, eu tinha saudade. De muitas maneiras, ele era como
o irmão mais velho que eu sempre quis... Só que muito, muito mais apavorante.
Edward decidiu mudar de assunto.
— E, então, já que não me deixa comprar o Audi para você, não há nada
que gostaria de aniversário?
As palavras saíram num sussurro.
— Você sabe o que eu quero.
Uma ruga funda vincou sua testa de mármore. Ele, obviamente, preferia
ter continuado no assunto de Rosalie.
Parecia que íamos discutir muito hoje.
— Hoje não, Bella, por favor.
— Bom, talvez Alice me dê o que eu quero.
Edward grunhiu — um som grave e ameaçador.
— Este não será seu último aniversário, Bella — jurou ele.
— Isso não é justo!
Pensei ter ouvido seus dentes trincarem.
Agora estávamos parando na casa dele. Uma luz forte saía de cada janela
dos dois primeiros andares. Uma longa fi la de lanternas japonesas reluzentes
pendia do beiral da varanda, refl etindo uma radiância suave nos enormes
cedros que cercavam a casa. Vasos grandes de fl ores — rosas cor-de-rosa —
ladeavam a escada larga até a porta da frente.
Eu gemi.
Edward respirou fundo algumas vezes para se acalmar.
— Isto é uma festa — lembrou-me ele. — Procure levar na esportiva.
— Claro — murmurei.
Ele veio até minha porta e me ofereceu a mão.
— Tenho uma pergunta.
Ele esperou, preocupado.
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— Se eu revelar este filme — disse, brincando com a câmera nas mãos —,
vocês vão aparecer nas fotos?
Edward começou a rir. Ajudou-me a sair do carro, empurrou-me pela
escada e ainda estava rindo enquanto abria a porta para mim.
Todos esperavam na enorme sala de estar branca; quando passei pela porta,
eles me receberam com um coro alto de “Parabéns pra você” enquanto
eu corava e olhava para baixo. Alice, imaginei, tinha coberto cada superfície
plana da casa com velas cor-de-rosa e dezenas de vasos de cristal repletos de
centenas de rosas. Havia uma mesa com uma toalha branca ao lado do piano
de cauda de Edward com um bolo de aniversário cor-de-rosa, mais rosas,
uma pilha de pratos de vidro e outra, pequena, de presentes embrulhados
em papel prateado.
Era cem vezes pior do que eu imaginara.
Edward, sentindo minha angústia, passou um braço encorajador em minha
cintura e beijou o alto de minha cabeça.
Os pais de Edward, Carlisle e Esme — incrivelmente jovens e lindos,
como sempre —, eram os que estavam mais perto da porta. Esme me abraçou
com cuidado, o cabelo macio cor de caramelo roçando meu rosto enquanto
ela me dava um beijo na testa, e depois Carlisle pôs o braço em meus ombros.
— Desculpe por isso, Bella — ele sussurrou. — Não conseguimos refrear
Alice.
Rosalie e Emmett estavam atrás deles. Rosalie não sorriu, mas pelo menos
não me encarou. O rosto de Emmett estava esticado em um sorriso enorme.
Fazia meses desde que eu os vira; tinha me esquecido de como Rosalie
era gloriosamente bonita — quase doía olhar para ela. E será que Emmett
sempre fora tão... grande?
— Você não mudou nada — disse Emmett com uma falsa decepção.
— Eu esperava uma diferença perceptível, mas aqui está você, com a cara
vermelha de sempre.
— Muito obrigada, Emmett — eu disse, corando ainda mais.
Ele riu.
— Preciso sair por um segundo. — Ele parou para dar uma piscadela para
Alice. — Não faça nada de divertido na minha ausência.
— Vou tentar.
Alice soltou a mão de Jasper e pulou para a frente, todos os dentes cintilando
na luz intensa. Jasper sorriu também, mas manteve distância. Ele se en
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costou, longo e louro, no pilar ao pé da escada. Nos dias que tivemos de passar
juntos em Phoenix, pensei que ele tivesse superado sua aversão por mim, mas
ele voltara a agir do mesmo modo que antes — evitando-me ao máximo — no
momento em que se livrou da obrigação temporária de me proteger. Eu sabia
que não era pessoal, só uma precaução, e tentava não ser muito sensível a isso.
Jasper tinha mais problemas para se prender à dieta dos Cullen do que o restante
deles; era muito mais difícil para ele resistir ao cheiro de sangue humano
do que para os outros — ele não havia tentado por tanto tempo.
— Hora de abrir os presentes — declarou Alice. Ela pôs a mão fria sob
meu cotovelo e me conduziu à mesa com o bolo e os pacotes cintilantes.
Fiz a melhor cara de mártir que pude.
— Alice, pensei ter dito a você que não queria nada...
— Mas eu não dei ouvidos — interrompeu ela, presunçosa. — Abra.
— Ela tirou a câmera de minha mão e a substituiu por uma caixa prateada
grande e quadrada.
A caixa era tão leve que parecia vazia. A etiqueta em cima dizia que era de
Emmett, Rosalie e Jasper. Constrangida, rasguei o papel de presente e olhei
a caixa que ele abrigava.
Era algum produto eletrônico, com um nome cheio de números. Abri a
caixa, esperando por mais esclarecimentos. Mas a caixa estava mesmo vazia.
— Hmmm... Obrigada.
Rosalie realmente deu uma risadinha. Jasper riu.
— É um sistema de som para sua picape — explicou ele. — Emmett está
instalando agora mesmo para que você não possa devolver.
Alice sempre estava um passo além de mim.
— Obrigada, Jasper, Rosalie — eu lhes disse, sorrindo enquanto me lembrava
das reclamações de Edward de meu rádio naquela tarde; tudo armação,
ao que parecia. — Obrigada, Emmett! — gritei mais alto.
Ouvi sua risada estrondosa vinda de meu carro e não consegui deixar de
rir também.
— Abra agora o meu e de Edward — disse Alice, tão empolgada que sua
voz era uma melodia aguda. Ela segurava uma caixa quadrada e pequena.
Eu me virei para Edward com um olhar venenoso.
— Você prometeu.
Antes que ele pudesse responder, Emmett irrompeu pela porta.
— Bem a tempo! — gritou ele. Ele se espremeu ao lado de Jasper, que
também tinha chegado mais perto do que o habitual para ver melhor.
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— Não gastei um centavo — garantiu-me Edward. Ele tirou uma mecha
de cabelo de meu rosto, deixando minha pele formigando com seu toque.
Respirei fundo e me virei para Alice.
— Pode me dar — suspirei.
Emmett riu de prazer.
Peguei o pacotinho, revirando os olhos para Edward enquanto passava o
dedo sob a beira do papel e o puxava da fita.
— Droga — murmurei quando o papel cortou meu dedo. Puxei-o para
examinar os danos. Uma única gota de sangue saía do corte minúsculo.
Então tudo aconteceu com muita rapidez.
— Não! — rugiu Edward.
Ele se atirou sobre mim, jogando-me de costas contra a mesa. Ela desabou,
como eu, espalhando o bolo e os presentes, as fl ores e os pratos. Aterrissei
na bagunça de cristal espatifado.
Jasper se lançou sobre Edward e o som era como o estrondo de pedregulhos
rolando em uma ladeira.
Houve outro barulho, um grunhido terrível que parecia vir do fundo do
peito de Jasper. Ele tentou passar por Edward, batendo os dentes a centímetros
do rosto dele.
Emmett pegou Jasper por trás no segundo exato, fechando-o em um aperto
de aço, mas Jasper lutava, os olhos desvairados e vazios focalizados só em
mim.
Além do choque, também houve dor. Eu tombei no chão junto ao piano,
com os braços estendidos instintivamente para me proteger dos cacos de
vidro na queda. Só então senti a lancinante dor em brasa que subia de meu
punho até a dobra de meu cotovelo.
Tonta e desorientada, desviei a atenção do sangue vermelho e brilhante
que jorrava de meu braço — e olhei nos olhos febris dos seis vampiros repentinamente
vorazes

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