continuação 2

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comportamento para meu namorado, fazendo o máximo para exemplificar
o assunto “incômodo” em cada palavra e gesto. Os esforços de Charlie eram
desnecessários — Edward sabia exatamente o que meu pai estava pensando
sem que ele demonstrasse.
A palavra namorado foi revirada por dentro da bochecha com uma tensão
familiar enquanto eu mexia a panela. Não era a palavra certa, definitivamente.
Eu precisava de alguma que expressasse melhor o compromisso eterno...
Mas palavras como destino e sina pareciam piegas quando usadas numa conversa
comum.
Edward tinha outra palavra em mente, que era a origem da tensão que eu
sentia. Eu tinha arrepios só de pensar nela.
Noiva. Argh. Dei de ombros para me livrar da idéia.
— Perdi alguma coisa? Desde quando você faz o jantar? — perguntei a
Charlie. O bolo de massa borbulhou na água fervente enquanto eu a cutucava.
— Ou tenta fazer o jantar, melhor dizendo.
Charlie deu de ombros.
— Não há nenhuma lei que me proíba de cozinhar em minha própria
casa.
— Você saberia disso — respondi, sorrindo ao olhar o distintivo alfinetado
em sua jaqueta de couro.
— Rá. Essa é boa.
Ele tirou a jaqueta, como se meu olhar o lembrasse de que ainda a estava
vestindo, e a pendurou no gancho reservado para suas roupas. O cinto com a
arma já estava no lugar — ele não sentia a necessidade de usá-la na delegacia
havia algumas semanas. Não tinha havido mais desaparecimentos perturbadores
para transtornar a cidadezinha de Forks, em Washington, ninguém
mais vira lobos gigantescos e misteriosos nos bosques sempre chuvosos...
Eu mexia o macarrão em silêncio, imaginando que em seu próprio tempo
Charlie acabaria por falar sobre o que o incomodava. Meu pai não era um homem
de muitas palavras, e o esforço dispensado tentando preparar um jantar
para nós dois deixava claro que havia um número incomum de palavras em
sua mente.
Olhei o relógio, por hábito, algo que eu sempre fazia mais ou menos nesse
horário. Agora faltava menos de meia hora.
As tardes eram a parte mais difícil de meu dia. Desde que meu ex-melhor
amigo (e lobisomem) Jacob Black me dedurara sobre a moto que eu pilotara
escondido — uma traição que ele concebera a fim de me deixar de castigo para
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que eu não pudesse ficar com meu namorado (e vampiro) Edward Cullen —,
Edward tinha permissão para me ver só das sete às nove e meia da noite, sempre
no recesso do meu lar e sob a supervisão do olhar infalivelmente rabugento de
meu pai.
Isso era uma evolução do castigo anterior e menos restritivo que eu recebera
por um desaparecimento inexplicado de três dias e um episódio de
mergulho de penhasco.
É claro que eu ainda via Edward na escola, porque não havia nada que
Charlie pudesse fazer a respeito disso. E, também, Edward passava quase todas
as noites em meu quarto, mas Charlie não sabia. A capacidade de Edward
de escalar facilmente e em silêncio até minha janela no segundo andar era
quase tão útil quanto sua habilidade de ler a mente de Charlie.
Embora eu ficasse longe de Edward só na parte da tarde, era o suficiente
para me deixar inquieta, e as horas sempre se arrastavam. Ainda assim, suportava
minha punição sem reclamar porque — primeiro — eu sabia que
merecia e — segundo — porque eu não podia suportar magoar meu pai
saindo de casa agora, quando pairava uma separação muito mais permanente,
invisível para Charlie, tão próxima em meu horizonte.
Meu pai se sentou à mesa com um grunhido e abriu o jornal úmido que
estava ali; segundos depois, estava estalando a língua de reprovação.
— Não sei por que lê o jornal, pai. Isso só o aborrece.
Ele me ignorou, resmungando para o jornal nas mãos.
— É por isso que todo mundo quer morar numa cidade pequena! Ridículo.
— O que as cidades grandes fizeram de errado agora?
— Seattle está se tornando a capital de homicídios do país. Cinco assassinatos
sem solução nas últimas duas semanas. Dá para imaginar viver assim?
— Acho que Phoenix tem uma taxa de homicídios mais alta, pai. Eu
vivi assim. — E nunca estive prestes a ser uma vítima de assassinato antes
de me mudar para esta cidadezinha segura. Na verdade, eu ainda estava em
várias estatísticas de risco... A colher tremeu em minhas mãos, agitando a
água.
— Bom, você não tem como me cobrar por isso — disse Charlie.
Eu desisti de salvar o jantar e preparei-me para servi-lo; tive de usar uma
faca de carne para cortar uma porção de espaguete para Charlie e depois para
mim, enquanto ele observava com uma expressão encabulada. Charlie cobriu
sua porção com molho e comeu. Eu disfarcei meu próprio pedaço ao máximo

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